quinta-feira, 8 de abril de 2021

Diluído

Rotos sapatos,
blusas puídas...


O tempo-desgaste
se esculpe no instante-já
exigindo de nós
o que nunca fomos!

quarta-feira, 11 de março de 2020

Era

Do passado
Se costura novos casacos.
De de retalhos, de seda,
ou de espinhos.
A veste, travestida de pele
revela na carne os descaminhos.
Por onde andei?
Reconstruo meus passos
através dos espaços vazios.
O que não se foi, o que não se fez,
o que nunca será,
são os fios da fina seda
bordadas entre espinhos.
Por lá passeia o tempo,
como vento ou tempestade,
ou ainda como seca areia
cortante e doída.
Do que já foi,
ou do que não é mais,
ficou o rascunho dos sonhos perdidos.
E entre lembranças, feridas
e inverdades,
se esculpe no agora o que somos
sem nunca ter sido.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

sobre verdades...

e se
não foi verdade
o
que
foi
esse abalo em mim?

coisas
não
reveladas...

melhor seria
guardar segredos
e tua
estranha matéria.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Surdos


é um absurdo...
somos induzidos
 a tudo
como agir, 
como vestir,
 como comer,
 o que fazer 
no trabalho e no lazer...
como deve ser sua casa, 
seu carro
sua forma de falar 
de se comportar
é um absurdo pensar
 mais absurdo ainda
acreditar!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Meu casaco de veludo...

queriam
me tomar
tudo...
e o frio assoma...
este desgosto d'alma
em clausura.

busco a ventania
e parto
em dois...
não há mais nada
nesta
cinzenta
sala!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Meu chapéu

Queriam arrancar-me
as vísceras
os olhos
queriam trucidar-me
despedaçar
esquartejar
Queriam mesmo
tirar fora
meu coração
minha alegria
meus sonhos
e fantasias
Queriam
e não podiam
Tentavam
e odiavam
amargavam-se
encharfundavam-se
em seu lodo
em seu fel
e Eu
alegre ia
pela estrada a fora.

Assado

Alguns se matam
outros se aniquilam
torturam
infectam
empanturram...
Eu?
esqueço
adormeço
recomeço
e vou
e vou
e voo.