Reticência

As palavras

que juntos escrevemos

não são minhas

nem tuas

mas pertencem

àquilo que há

entre nós

Outra coisa III

Bem que pudera sonhar!

e sonhando

voar

simplesmente

não estar

nem aqui, nem lá

mas aonde quiser

sem se materializar.

Bem que ao menos

pudera sonhar -

sonho:

libertação do meu estar

Outra outra coisa

E dançando

continuo a sonhar

e sonhando

cá me encontro

a ciscar:

pinto e perereca

o que está dentro

é o que me faz

pensar

Poética IV

Do caco que se fez

em mosaico

se refez

A vida tornada

obra de arte

em negação à

fatalidade

outra coisa

sonhei que tinha um pinto
e adorava pererecas
pulos do meu ciscar


o galo canta
enquanto danço

sobre o ciúme

quando o fim chega
olhos além
do que fui
ou poderia ser
quando já não se é
não mais se tem

Reconstrução Indiana (Ṛgveda, X,90-11,12) ou Poética III

No caco, Completo sou.

Na jerica junto ao estilhaço,

Rangemos em pedaços -

Música de cítara e grou.

Marco o compasso - carrego

A anti-cerâmica pelo andaime –

Sem sair rallentando do estrado.

________________________

Na parede, já mosaico,

-pagode indiano –

Tornei-nos giral de idéias

E Sentidos; do mais íntimo,

Infindo, como o caco

Que nos formou.

Specchio VI

Honestamente

foi muito difícil sair

de dentro do meu mundo

dos meus pensamentos

e sentimentos

para adentrar no seu..

Foi e é!

Confesso que não é

nada fácil destituir-me

de minha natureza egoísta

auto-centrada em mim mesma

absurdamente redundante sobre mim!

Mas eu continuo tentando

com-partilhar, quero mesmo

adentrar..

Vamos juntos tentar?

Panta Rei

Era uma lépida angústia

que as vezes me possuía

rondava-me pela casa,

no banheiro principalmente,

simplesmente por..

viver!

Quanta inevitabilidade,

imprevisão e,

ao mesmo tempo,

necessidade.

Como, surpreendentemente,

muitas coisas

precisavam acontecer.

Eu não poderia evitar,

não me era possível,

e, secretamente,

talvez nem quisesse.

Seja você quem for

Enfim compreendo

Que agora podemos

juntos

ser o que bem queremos

E eu te proponho!

Amor

A começar por olhar

o mais puro e profundo

que puder

Sem pressa

sem tempo

apenas

presentes.

E te convido a sentir cada toque

do meu mais intenso propósito

Apesar eu sei

Somos matéria.

Nesse momento

ultrapassaremos para o etéreo

Ao não mais querer

nada além do que é

Sem mais

nem menos

Rumo ao maior prazer do mundo!

Somente eu

e você.

Quando se tem asas

O que é o ciúme?

se não a falta de si mesmo

a incapacidade de ser livre

e libertar.

Um final triste

Pra variar.

Instinto II

Se já não houvesse

Qual seria o sentido

da prece?

Em não havendo

como ficaria

o "vou sendo"?

Se não haver

para quê

viver?

...

Mas há!

há e resplandece

derrama

inunda

engrandece

há e me faz

mais

me dá

paz

sentido

traz

Também me ensina

me torna

menina

modifica

a minha sina

Me revela

em você

nela

desvela

A pobreza

e a beleza

de viver

Espelho V

E porque se viu

em um outro

nunca mais

foi a mesma

Instinto

Arrisca
o risco
disso tudo
Assume
à risca
e segue
com essa impetuosidade
toda.
Quando eu parar de falar de amor
é porque a poesia acabou.

Sublima

Talvez a matéria
e esse cumprimento de regras
e ordens
de necessidades
fisiológicas
Sejam enfim
O próprio fim
de todas as coisas
Ser físico
é mero acaso
e é.
Talvez seja trágico
e é.

Ela não sabe

Ela não sabe

que o mundo é bem maior

do que o seu ao redor

ainda não sabe

que as coisas passam

que tudo flui

que pode ser melhor

que as pessoas

os amores

os encontros

virão ao seu encontro

quando se libertar

do assombro

Reflexão (Espelho parte IV)

Por nada.

Você também é bem vindo!

Entendestes antes do previsto.

Agora pense aqui comigo

É engraçado quando eles aparecem

Umas são fadas

Outros...
meninos.

Eles cantam

Umas até dançam.

Parecem ser todos amigos.

Colisão

Logo de cara
Um susto
um impacto.

Um papo
um desabafo
A verdade.

Sensibilidade.

Talvez nem tenha percebido.

Confirmo.
Foi isso.

Engraçado.
É possível e fácil
ser raso.

O difícil mesmo
É o contrário.

Admirável!

ESPELHO ... continuação da continuação ...

Sim ...

eles existem ...

não ...

eles não são assustadores ...

claro ...

pode entrar ...

não ...

não precisa dizer que a imagem está nítida ...

sim ...

de fato está nublada ...

sim ...

esqueci meus óculos ...

não ...

não mudaria nada, se estivesse com eles ...

sim ...

eu sei ...

mas acho q da pra ver ... de olhas fechados, até ...

pode doer ... pode arder ... pode flutuar ... pode tudo ...

da pra sentir ...

sentir pode ser bom

se sentir ... também

sem medo de ser ou não, nada

seja

pode ser bom

e segue ...

melhor ... a cada dia

obrigada